No mundo dos negócios modernos, onde redes sociais e realidade se misturam, a linha entre o pessoal e o profissional é mais tênue que a paciência numa reunião de sexta-feira. Marcelo, um jovem trabalhador talentoso, descobriu isso da pior maneira possível.
Era uma típica sexta-feira à noite. Marcelo, exausto após uma semana de trabalho intenso, decidiu relaxar com alguns colegas em um bar próximo ao escritório. Entre goles de cerveja e risadas soltas, Marcelo soltou uma “piadinha” sobre um colega de trabalho, Marcos. Claro, ele achou que estava entre amigos e que o bar era um lugar seguro para desopilar. Ingenuidade é pouco.
Alguém gravou a cena e, rapidinho, o vídeo foi parar nas redes sociais. O que era para ser uma noite descontraída virou um viral. Na segunda-feira, o escritório inteiro comentava o vídeo. Marcos, naturalmente ofendido, levou o caso ao Recursos Humanos. E foi aí que o circo pegou fogo.
Marcelo tentou argumentar que estava fora do ambiente de trabalho e que suas palavras não deveriam ter repercussão profissional. Mas adivinhem? O escritório não comprou essa desculpa. A empresa, que se orgulha de seu ambiente respeitoso e inclusivo, viu nas palavras de Marcelo um reflexo de atitudes inaceitáveis.
Tradicionalmente, a Justiça do Trabalho só considera justa causa para atos cometidos dentro do ambiente de trabalho. Mas estamos em 2024, e a vida profissional e pessoal estão mais interligadas do que nunca. Ofensas proferidas fora do escritório, especialmente aquelas compartilhadas nas redes sociais, podem sim justificar uma demissão por justa causa, ainda mais quando envolvem discriminação ou assédio.
A empresa de Marcelo tinha um Código de Conduta claro, que coibia práticas desrespeitosas e promovia a conscientização sobre diversidade. Logo, a piada de Marcelo foi vista como uma violação grave desse código. Resultado? Demissão por justa causa.
E a lição aqui é clara. No mundo corporativo moderno, as palavras têm peso, não importa onde sejam ditas. O limite entre o pessoal e o profissional é quase invisível. Uma piadinha infeliz num bar pode ter repercussões seríssimas na carreira.
Então, empresários, lembrem-se: a ética e o respeito devem estar presentes em todos os momentos, dentro e fora do escritório. O caso de Marcelo é um alerta. Em tempos de redes sociais, o que se fala no bar pode sim chegar até a mesa do chefe, e uma noite de descontração pode virar um pesadelo profissional.
No final das contas, vivemos numa era onde o digital não perdoa. E a reputação, tanto pessoal quanto profissional, pode ser abalada por um simples comentário fora de lugar. Portanto, cuidado com o que dizem, porque as palavras voam mais rápido e mais longe do que imaginamos.
Ciane Meneguzzi Pistorello é advogada, com pós-graduação em Direito Previdenciário, Direito do Trabalho e Direito Digital. Presta consultoria para empresas no ramo do direito do trabalho e direito digital. É coordenadora do Curso de Pós-Graduação Latu Sensu em MBA em Gestão de Previdência Privada – Fundos de Pensão, do Centro Universitário da Serra Gaúcha – FSG.